“Em suma, fui covarde demais para fazer o
que eu sabia ser certo, tal como fora covarde demais para evitar fazer o que
sabia ser errado.”
Essa foi a segunda obra que eu li desse autor por
quem eu me interessei muito desde que descobri que se tratava de um dos autores
preferidos do C. S. Lewis – a primeira foi Um Conto de duas Cidades. Estava
sentindo falta de ler um clássico, umas dessas obras grandiosas que poucos
escritores conseguem produzir. É interessante esse traço que eu notei em grandes
obras como Os Miseráveis, Guerra e Paz, Um Conto de duas Cidades,
Germinal e agora em Grandes Esperanças e que, deve até
ter um nome técnico, mas que para mim é a capacidade de contar uma grande e
profunda história a partir de acontecimentos simples e cotidianos.
Talvez por isso é que a gente acabe aprendendo
tanto sobre a natureza humana com essas obras, e talvez, por isso é que elas se
tornem clássicos. De qualquer forma, apesar de não ser uma história cheia de
grandes acontecimentos e de emoções fortes, o que acaba tornando a leitura um
pouco mais morosa, a verdade é que são histórias que irão influenciar gerações
para sempre.
Vamos a um breve
relato da história. Pipi é um garoto órfão de pai e mãe, que é criado por
sua irmã mais velha, uma pessoa dura, rancorosa e um tanto agressiva, e por Joe,
o esposo de sua irmã, um ferreiro que apesar de ser um tanto rústico é uma
pessoa amorosa, e com quem o menino tem muita afinidade e uma amizade profunda.
A história começa quando Pipi está visitando o túmulo de seus pais, em um
charco distante de sua vila, e é surpreendido por um forçado que havia fugido
das presigangas que exige que o garoto lhe traga comida na manhã seguinte, jurando
que, caso não o faça, seu companheiro irá matá-lo. O garoto sofre durante toda
a noite com o dilema moral de furtar comida da sua própria casa para preservar
sua própria vida e, apesar de todo o medo de levar uma surra de sua irmã caso
fosse descoberto, ele acaba alimentando o fugitivo sem que ninguém descubra.
“Foi para mim um dia memorável, pois causou
grandes mudanças em mim. Mas é assim com todas as vidas. Imagine que um
determinado dia fosse eliminado de sua vida, e pense em todas as consequências
que isso teria sobre o resto dela. Para e pensa, tu que me lês, por um momento,
na longa cadeia de ferro ou ouro, de espinhos ou flores, que jamais teria te
cingido, não fosse a formação do primeiro elo, num dia memorável.”
Após essa primeira cena que parece não ter qualquer
ligação com o resto da história (isso também acontece em Um Conto de Duas Cidades)
a história de Pipi muda de foco. Sua casa é sempre frequentada por três
parentes insuportáveis que tratam mal tanto o garoto como Joe, mas que são
adorados pela irmã. Em certa ocasião, um desses parentes que é comerciante na
vila, comunica a irmã de Pipi que a Sra. Havisham, uma rica e excêntrica mulher
que vive enclausurada em sua mansão, deseja a companhia de um garoto. O garoto
então começa a frequentar a casa da rica mulher semanalmente, onde, além de
fazer companhia para a velha que não sai de sua casa desde o dia de seu
casamento que não se realizou, cujos relógios estão parados na hora em que a cerimonia
ocorreria, que a mesa da festa ainda está posta e que ainda festa o vestido de
casamento, conhece e se apaixona por sua filha adotiva, Estella.
Mas Estela foi ensinada a não amar, a zombar dos
homens, a ser orgulhosa de sua beleza e seu destino é vingar o mal que um dia
se fez a sua mãe adotiva e, percebendo que o menino se apaixonou por ela, passa
a esnobá-lo, sempre apontado sua grosseria, sua origem humilde e sua falta de elegância
e conhecimento.
“É impossível saber até onde a influência de
um homem simpático, honesto, e cumpridor de seus deveres se estende no mundo;
mas é perfeitamente possível saber até que ponto essa influência tocou a nós.”
A partir dai, depois de viver um tempo em meio à
riqueza e apaixonado por Estella, Pipi começa a desprezar o mundo em que vive,
e até mesmo Joe, seu grande e fiel amigo e protetor, pois via em tudo algo que
desagradaria Estella. Pipi então se torna insuportável e tudo piora quando sua
sorte parece mudar.
Um dia ele é visitado pelo Sr. Jaggers, advogada da
Sra. Havisham que vem lhe fazer uma proposta. Pipi havia se tornado herdeiro de
uma grande fortuna, mas, para fazer jus a ela, ele deveria mudar-se para
Londres, aonde iria se preparar para se tornar um cavalheiro. Lá ele iria
estudar e frequentar os melhores lugares, se tornar refinado. Mas havia algumas
condições, uma delas é de que ele jamais deveria questionar acerca de quem era
seu bem feitor e a outra é de que ele deveria sempre manter o nome de Pipi.
“não há verniz que esconda os veios da madeira,
e quanto mais se enverniza a madeiras, mais os veios se manifestam”
Era tudo que ele queria e, crendo que sua bem
feitora era a Sra. Havisham e, por vários outros motivos, crendo que ela tinha
destinado a ele a bela Estella, Pipi abandona sua família (dua irmã havia
adoecido profundamente, vivendo um tipo de coma e sua mais antiga amiga, Byddi,
havia se tornado empregada da casa para ajudar a cuidar dela, e estava
apaixonada por Pipi).
“Assim é que, no decorrer de nossas vidas,
nossas maiores fraquezas e mesquinharias costumam ser motivadas pelas pessoas
que mais desprezamos.”
Em Londres, com dinheiro de sobra, Pipi se torna um
inútil. Não faz nada a não ser gastar demais e viver remoendo seu amor não
correspondido por Estella. Também conhece Hebert, esse um bom amigo e de bom
caráter, mas que muitas vezes é influenciado pela conduta displicente de Pipi.
E assim a história vai, e Pipi se torna uma pessoa cada vez pior... ele corta
todo seu relacionamento com Joe e Byddi, mesmo após a morte da irmã, e se deixa
deslumbrar pela riqueza de que dispõe.
“Jamais se guie pelas aparências; sempre se
funde em dados concretos. Não há melhor regra que essa.”
As coisas mudam quando Pipi enfim descobre quem é
seu verdadeiro bem feitor e percebe que Estella vai se casar com uma das
pessoas que ele mais despreza, apenas como vingança pelo sofrimento da Sra.
Havisham. E então é que o autor demonstra sua genialidade. Na transformação e
caráter que Pipi sofre. Não vou entrar em detalhes sobre a história, pois sendo
um livro que eu acredito que todos deveriam ler, não quero contar demais.
Quanto a minha opinião sobre o livro, como disse
acima, é mais uma dessas obras que me fazem apreciar a genialidade de um
escritor. Claro que eu amo Cornweel, Martin, Zafón... eles são ótimos, mas há
algo de especial em alguns escritores, especificamente em Victor Hugo, Tolstoi
e Dickens, algo que os coloca em um patamar diferente, mais elevado, algo que
os torna fonte de inspiração.
Então, acredito que é um livro para ser lido com
toda certeza!!!
Gente, foi uma postagem longa, mesmo eu tendo feito
apenas uma pincelada da história, e há tanto o que se falar da obra que não dá
para por tudo aqui, portanto, leiam!!!
Agora, eu tinha decidido ler A rainha Branca, mas
como acabou de chegar O Príncipe da Névoa e ele é bem
curtinho, vou ler esse do Zafón antes... vai ser bem rapidinho pelo jeito!!!
Beijos,
Fefa
Rodrigues